Batalha das Musas (4ª edição)... Como foi?

Salve! Quem fala aqui é Aline, venho trazendo um pouquinho das minhas impressões sobre a 4ª edição da Batalha das Musas, realizada na última quinta-feira (28/09) em parceria com a Roda Cultural Conexão Favela&Arte. 

Foi a primeira vez que a Batalha das Musas aconteceu em uma roda cultural, nas outras edições tinha sido no Museu do Ingá e no Teatro Popular Oscar Niemeyer. Na verdade, a Batalha das Musas foi concebida em conjunto com o museu, que etimologicamente se refere a "templos das musas". 

Samantha Zen / Foto: Sérgio Odilon

De modo extraordinário, o encontro de meninas e mulheres na roda cultural foi um diálogo importante com a rua, nesse começo de jornada. Quem quiser conhecer melhor o Conexão Favela&Arte também pode ir no site

A batalha contou com a participação e presença de diversas pessoas ativas na cena, especialmente mulheres, como a Renata Maria (organizadora da Batalha do Largo - Roda Cultural do Largo da Batalha), Pequena Rasta (organizadora da Roda Cultural de Viradouro), a DJ RootsCidade também apareceu para enaltecer a festa, e batalhou! 

E, sinceramente, fiquei satisfeita com a quantidade de homens e meninos interessados no que elas tinham a dizer... entre o público masculino, Cogu (Mestre de Cerimônias da Roda Cultural do Engenho do Mato), Garcia e o rapper Choice chegaram junto com o projeto, para animar ainda mais o baile.

Antes de iniciar a Batalha das Musas, tivemos uma série de intervenções de fato inspiradoras. O Círculo fez uma performance linda com bambolês de fogo (após a apresentação, Luiza Carioca falou sobre a necessidade de resistir contra o armamento da Guarda Municipal, ressaltando a gravidade do assunto, e como o armamento da GM representa uma ameaça para a arte de rua).

O Círculo/Foto: Isabella Madrugada

A professora Carolina Santiago representou lindamente a BEM - Biblioteca Engenho do Mato Itinerante, projeto que distribui livros na Batalha das Musas e em diversas rodas culturais do estado do RJ.

Ellen Puri deu um show no tecido acrobático, encantando a plateia...! Após sua apresentação, Ellen falou no microfone sobre a data (Dia da luta pela descriminalização do aborto na América Latina), e disparou também sobre a importância de refletirmos sobre algumas expressões que a nossa sociedade vai naturalizando aos poucos, mas que só servem para reforçar um sistema machista e opressor. Ellen utilizou como exemplo a massificação do termo "novinha"... (já que a expressão se refere a meninas menores de idade) esclareceu muito bem, sem medo da polêmica: "Gente, isso é pedofilia!" A plateia concordou, e fez barulho!!

Ellen Puri/Foto: Isabella Madrugada

Depois foi a vez do grupo de dança de rua "Girls Power"... Além das coreografias ensaiadas, as meninas quebraram tudo na pista de dança, ao som animado da DJ Andrea Mafer.

Andrea Mafer, DJ da Batalha das Musas falou sobre a dificuldade que é trabalhar dividindo a mesa com homens, pois eles normalmente não respeitam o tempo do set dela. Andrea deixou claro o quanto é recorrente e desagradável para uma DJ estar tocando e, geralmente aparece um DJ para "rabear" a mesa, literalmente. Quem não conhece o significado de "rabear" ou "raberar" é uma gíria do surf, quando um surfista entra na frente da onda, quando outro já está dropando a mesma onda, e aí o surfista raberado quebra o tip.  Sem dúvidas, é uma prática que mostra falta de respeito. A gente repudia essa atitude, vamos acordar, DJs...

Andrea Mafer e Azzy/Foto: Isabella Madrugada

O show da Azzy aconteceu na sequencia, e ela mostrou que não está a passeio, levantando a plateia toda! Antes de terminar o show, Azzy aproveitou a oportunidade para fazer piada com o jargão "Azzy fortalece"... A musa perguntou para a plateia: "Vocês gostaram do show?" A resposta veio em forma de barulho, então a rapper completou: "Agora sim, vocês podem dizer que a Azzy fortalece!" Acho que todo mundo entendeu.

Após o show da Azzy, teve enfim início a Batalha das Musas! Samantha Zen apresentou a Batalha das Musas, dessa vez ao lado da Pequena Rasta, e em conjunto as duas fizeram um ótimo trabalho. É importante deixar claro que o objetivo da nossa batalha é fomentar as mulheres ativas no rap. Além disso, trabalhamos pela construção de um ambiente no contexto das batalhas de MCs, livre da violência contra meninas e mulheres. Entendemos que a violência simbólica é uma das piores formas de traumatizar uma pessoa, e não estamos dispostas a tolerar a opressão nas batalhas de MCs.

As MCs que batalharam foram: Cashy, Lady Cella, Camilla Cidade, Ventura, Lya e Treze. Todas se saíram muito bem, mostrando que independente do título, cada uma delas é vencedora. A Final aconteceu entre Lya e Cashy, e foi pesada! No terceiro round, Lya acabou ganhando mais barulho da plateia, sendo pela segunda vez Campeã da Batalha das Musas!!

Lya/Foto: Isabella Madrugada

Lya conquistou o Troféu-Arte criado pelo bruxão Sérgio Odilon, maravilhoso e, infalivelmente, presente na Batalha das Musas. O Troféu-Arte (repleto de simbolismos) foi um manifesto pelo fim da violência contra meninas e mulheres.

Tudo foi registrado pelo olhar sensível da Isabella Madrugada. Quem quiser ver o álbum completo chega no link. Os temas mais aplaudidos da noite foram: "Não existe cura para o que não é doença", "Eu não vou lavar a louça", "Nasci para brilhar... e você também".

Próxima edição Batalha das Musas estreando na cidade do Rio de Janeiro... Em breve mais detalhes.

Agradecimentos: 
Plateia, Samantha Zen, Andrea Mafer, Pequena Rasta, Carolina Santiago, Sérgio Odilon, Reginaldo Junior, Isabella Madrugada, Mcs Ventura, Cashy, Lya, Lady Cella, Brenda Palma, Camilla Cidade, Azzy, O Círculo, Girls Power, Renata Maria, Ellen Puri, Família Conexão Favela&Arte (Raphael Campagnac, Pericão, DJ Glk, Gilberto, Nuquepi... e todas as pessoas que de alguma forma fazem o projeto acontecer).

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