Aila: "O Troféu é dedicado à Negra Rê, pioneira do freestyle no Rio de Janeiro"

Aila Ailita

O Troféu Arte da próxima edição da Batalha das Musas no MAR foi um verdadeiro presente da grafiteira Aila para as MC's, dedicado à grande musa do freestyle cariocaNegra Rê...! Segundo Aila, que é considerada pioneira no Graffiti do Rio de Janeiro, o Troféu Arte feito especialmente para o desafio de sábado (02/12) representa o feminino e a vitória. 

Aila aceitou conversar com a gente, e tivemos a oportunidade de realizar uma entrevista no ateliê da AP Stelling, que também é grafiteira. Foram algumas horas de muitas histórias sobre o Graffiti e o Hip Hop no Rio de Janeiro. Bastante engajada no movimento, Aila já fez tanto pela cultura Hip Hop, que se fosse enumerar, seria melhor escrever um livro. Procurem saber...

Confiram a entrevista com Aila Ailita:

1) Poderia começar falando um pouco sobre a sua história no Graffiti? Como é ser uma pioneira?

Aila: É uma coisa que não é muito falada direito, mas eu sou realmente pioneira do Graffiti do Rio de Janeiro, porque o Graffiti começou em São Gonçalo, onde eu morava. Eu comecei a grafitar quando estava morando em Niterói, porém já tinha o Graffiti em São Gonçalo, tinha os meninos, então eu vi o Graffiti nascendo, e vindo pra Niterói um pouquinho mais velha eu tive a oportunidade de conhecer mais a arte urbana, e a galera da rua. Eu já conhecia umas meninas que namoravam grafiteiros e acompanhavam eles ajudando, mas não estavam muito acostumadas com a pichação. Fui a primeira grafiteira carioca, e levei isso a sério... porque a parada era só de meninos, eu tive que entrar nesse mundo, entendeu? Conversar com eles, e eu tive um namorado que é o pai do meu filho, e que é o primeiro grafiteiro do Rio de Janeiro (Ema), e isso me abriu muitas portas, eu conheci muita gente, não só do Graffiti, mas do Hip Hop em geral. Porém eu que tive que pegar a tinta, acreditar, resistir a isso para me expor, passei por essa fase mais difícil, abri mão de muita coisa, porque é caro. O fato de ter sido pioneira, eu acabava tendo a sorte de ser convidada pelos grafiteiros. Estudei Graffiti no Rio, e meu primeiro Graffiti foi feito em Niterói. Busquei me profissionalizar. É possível afirmar que fui pioneira em São Gonçalo, Niterói e no Rio.

2) Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou no Graffiti?

Aila: Acho que sempre tive muito apoio dos meninos do Graffiti, sendo mulher isso também foi um ponto que o pessoal falava "Oh..." Mas assim, o Graffiti traz uma outra logística diferente do que a gente tá acostumada, tipo trocar a sandália pelo tênis, a gente se importa com coisas diferentes também... às vezes o sol castiga muito, e outras questões às quais ficamos expostas na rua, mas aí surgem novos elementos que a pessoa quando vai fazer Graffiti precisa levar consigo, além do material para pintar, as mulheres carregam itens próprios na mochila, porque a gente gosta de se cuidar. 

*Aila utilizou spray e caneta Posca para o Troféu Arte. AP Stelling estava ao nosso lado, e comentou sobre a importância de refletir sobre os danos que os resíduos do Graffiti produzem no meio-ambiente. Ela acredita que é fundamental criar soluções para o reaproveitamento das latas, por exemplo. Além disso, AP desabafou: "Quando acaba um mutirão de Graffiti, muitas das vezes a galera não tem a consciência de dar um destino, ou levar consigo o lixo, e deixam as latas jogadas no chão. Isso também precisa mudar."

Falamos um pouco sobre empreendedorismo de rua, e como isso de alguma forma pode alimentar relações que reproduzem o sistema de exploração. Foram levantados alguns exemplos do Rap e do Graffiti, que acabam fomentando à logica da competição, como as chamadas "puxadas de tapete"... o oportunismo de quem faz fama se apropriando do estilo alheio, o exclusivismo de quem deixa de dar visibilidade ao trabalho de quem "não é da panela"... e por outro lado, Aila e AP consideram uma grande falta de valorização quando alguém as convida para grafitar de graça ou sem oferecer nenhuma contrapartida. 

 3) O que você preparou para o Troféu Arte da Batalha das Musas no MAR?

Aila: Eu usei as cores no tom rosa, porque eu tive que passar pelo maior processo para admitir que eu amava o rosa... eu demorei pra conseguir passar por cima do estigma do rosinha. Mas o rosa linka a minha marca. O dourado é pelo ouro que simboliza a vitória. Além dos respingados, escorridos na pegada do Graffiti, que é uma coisa bem humana. O Troféu é dedicado à Negra Rê, pioneira do freestyle no Rio de Janeiro, nas batalhas... é uma inspiração!

Troféu Arte da Batalha das Musas no MAR - Aila

4) Tem algum conselho pra quem está começando no Graffiti?

Aila: Em primeiro lugar desenvolver a humildade, porque estando na rua você precisa se relacionar com o povo da rua, isso é uma arte também. Aceitar-se. Tem que ter humildade para se expor no início, e saber errar... saber se colocar no lugar do amador e ainda saber se profissionalizar. E depois, estudar, buscar materiais, hoje em dia existem muitos materiais pra trabalhar, é importante sempre ler, pesquisar, buscar os vídeos no YouTube, fazer cursos. Ter em mente que é possível.

5) O que você está achando da Batalha das Musas?

Aila: Eu boto muita fé, vi que a parada deu certo, acho foda! Era o que precisava, é maneiro para organizar as meninas, para elas estudarem... os temas delas, as pessoas estão indo para ver elas rimando... só mulheres... Há algum tempo atrás tive a oportunidade de ver umas meninas batalhando, e observei que elas precisam estudar mais. Eu quero batalhar!


6) Como você encara esse diálogo do museu com a cultura Hip Hop?

Aila: O diálogo do Hip Hop com o museu é maneiro, porque junta os pontos, é uma forma de abrir espaços para as mulheres, para o Rap.




BATALHA DAS MUSAS
Evento gratuito: MAR à Tona :: Ocupação
Data: 02/12 (sábado)
Horário do evento: das 10h às 18h
Horário da Batalha das Musas: das 15:30 às 18h (Inscrições: das 14h às 15h)
Local: MAR - Museu de Arte do Rio
Endereço: Praça Mauá, nº 05

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